Escassez
Com demanda em alta, serviço de fonoaudiologia ainda é escasso na Zona Sul
Falta de curso superior na região e baixa remuneração são algumas das causas apontadas para a falta de profissionais
Foto: Rodrigo Chagas - Ascom - Centro de Atendimento ao Autista Dr. Danilo Rolim De Moura possui quase 600 alunos com TEA e apenas uma profissional da área
Longas listas de espera por atendimento público e particular. Essa é a realidade da área de fonoaudiologia em Pelotas e região. De acordo com o Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa), cerca de 2,8 mil profissionais compõem esse mercado no Rio Grande do Sul. No entanto, sem formação superior na região e com remuneração mais baixa do que em outros locais, Zona Sul tem mais demanda do que profissionais da área.
Uma das grandes demandas na cidade se concentra em crianças e jovens com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No Centro de Atendimento ao Autista Dr. Danilo Rolim De Moura, por exemplo, são quase 600 alunos e apenas uma profissional da área. Mesmo que nem todos precisem do atendimento, a demanda ainda é muito superior ao atendimento oferecido. "Temos uma única fono, e não é por falta de vontade do poder público, é porque tem uma escassez desses profissionais. Mesmo quando tem edital, não temos adesão", comenta a diretora do Centro, Débora Jacks.
Para ela, a situação é sentida já há algum tempo em toda a Zona Sul e, um dos possíveis motivos, é a falta de curso superior de fonoaudiologia na região. "Não temos nenhuma universidade que ofereça a formação aqui. Nós passamos por isso, um tempo atrás, com os profissionais da terapia ocupacional. Por um longo tempo tivemos essa defasagem. Quando a UFPel trouxe o curso, essa necessidade foi se amenizando", observa Débora.
Desvalorização profissional
A fonoaudióloga Cristiane Rocha, que atua no Centro de Atendimento ao Autista, avalia que a baixa remuneração e a desvalorização dos profissionais afetam diretamente esse cenário. "A remuneração é uma das coisas principais. Se paga pouco pelo trabalho e importância do fonoaudiólogo. Muitos desistem de estar em lugares públicos, os planos de saúde também pagam pouco, e eles acabam indo para o privado em busca de uma melhor remuneração", avalia.
O acompanhamento e tratamento de pacientes, em muitos casos, é longo, o que faz com que não 'abram vagas' com tanta facilidade. Segundo Cristiane, a alta demanda reprimida do setor público e dos convênios de saúde acaba pressionando o setor privado. "Acaba tendo fila de espera também nos atendimentos particulares", comenta. Para ela, a disparidade salarial de acordo afasta os profissionais e contribui para a desvalorização do serviço. "Nosso conselho está se posicionando, buscando um piso para o fonoaudiólogo, até pra não ter essa disparidade tão grande de valores", salienta.
Meses de espera
Para quem aguarda pelo atendimento, a espera é angustiante. "Temos uma menina que está dentro do espectro do autismo e precisa muito de fonoaudióloga. Desde o mês de julho, o local [vinculado à convênio, onde ela se trata desde os dois anos] ficou sem profissionais. Estamos aguardando atendimento fora da rede e até agora nada", relata uma mãe, que preferiu não se identificar. "O curso de fonoaudiologia é fundamental para a região sul, pois os profissionais que trabalham em Pelotas precisam se formar em outras cidades e a procura por esse profissional é muito maior que a demanda, inclusive particular. Eu tenho certeza que falo por todos os pais que se angustiam esperando pelo atendimento dos seus filhos", complementa.
Importância do trabalho
Para a fonoaudióloga, a valorização da profissão é desproporcional à sua importância. "O fonoaudiólogo está diretamente relacionado com a comunicação humana", resume Cristiane. Ela destaca que a área atua na linguagem, audição e voz, não só de crianças, mas também de idosos, pessoas que sofrem com sequelas de episódios como acidente vascular cerebral (AVC) e muitos outros. "Abrange uma série de áreas que afetam as relações humanas e a qualidade de vida, do nascimento ao envelhecimento. Junto com outros profissionais da área da saúde, o fonoaudiólogo atua em benefício do bem estar das pessoas", finaliza.
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